ARTIGOS DE SEXUALIDADE - PARTE
IV - (07/06/04) |
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CASAIS HOMOSSEXUAIS: AS DISFUNÇÕES SEXUAIS E A TERAPIA
Dra. Jaqueline Brendler - Presidente da SBRASH - Consultório - Telefone: (51) 3228.0322
A disfunção sexual mais comum encontrada na clínica entre casais homossexuais é a desordem do desejo sexual hipoativo (HSDD), embora com características diferentes nos casais formados por homens daqueles formados por mulheres. Discrepâncias entre as freqüências sexuais desejadas pelo(a)s parceiro(a)s é a segunda queixa em freqüência. Em terceiro, entre os casais de homens é a ejaculação retardada e, nos casais formados por mulheres, é a anorgasmia secundária.
Temos que lembrar que homens tendem a compartilhar de atividades para estabelecer intimidade e que a maioria dos casais de gays foram muito ativos sexualmente no início do relacionamento, e isso foi uma das estratégias fundamentais para sedimentar o vínculo entre eles. Numa situação de desejo sexual hipoativo (HSDD), o casal de homens "perde a intimidade", o que pode levá-los rapidamente à terapia.
Para a maioria das mulheres, a intimidade é estabelecida dividindo as informações, os sentimentos, os segredos, as soluções e, numa situação de casal, o alicerce da intimidade primeiro será construído em bases não sexuais. Assim, quando há HSDD, elas ainda conseguem manter um relacionamento muito harmônico com exceção da esfera sexual e isso as leva à demora em procurar terapia.
A ejaculação retardada e a anorgasmia secundária têm inúmeras causas, mas devemos lembrar que a ausência do orgasmo pode significar "falta de entrega a si mesmo e ao outro". As razões podem envolver: baixa auto-estima, querer agradar excessivamente o(a) outro(a) durante o relacionamento sexual, insegurança, infidelidade, mudanças de poder no casal ou até uso de algum medicamento.
Discrepâncias de desejo sexual podem surgir por: 1- inexperiência, falta ou limitada criatividade de um dos parceiros; 2- aversão à alguma prática sexual; 3- diferenças de poder entre os parceiros; 3.1- parceiro menos influente: pode negar sexo, para ter algum "controle" do relacionamento ou solicitar sexo a todo momento, para reafirmar a si mesmo, do compromisso que o outro tem com ele; 4- grau de dependência do parceiro. Sobre os itens 3 e 4: Parceiro(a)s em casamentos homossexuais são com freqüência economicamente ativos. Casais formados por homens são muito mais independentes do que os formados por mulheres. Igualdade está mais relacionada com maior satisfação entre mulheres do que independência pessoal, o contrário do que acontece com casais de homens. O ganho financeiro somente influencia o poder nos casais de homens. O medo de tornar-se dependente do parceiro é comum em casais de homens.
Problemas comuns em casais homossexuais que causam conflitos, podendo levar às disfunções sexuais são: 1- parceiros possuem diferentes níveis de abertura em relação à homossexualidade e em relação a assumir o relacionamento socialmente; 2- uma das mulheres, do casal, desejar diferenciar-se da outra, com quem estava "fusionada"; 3- entre casais de mulheres, a relutância em expressar opiniões diferentes e assim ameaçar a "fusão", na tentativa de evitar qualquer conflito, sendo comum relatarem que "nunca brigam".
A linha sistêmica associada à comportamental cognitiva pode ser útil com casais homossexuais. O terapeuta, muitas vezes, é a única pessoa a dar suporte numa situação de crise, na qual a existência de um problema sexual não significa final do relacionamento e um grau significativo de afeto é o único ingrediente necessário para iniciar a terapia sexual.
Revista Brasileira de Sexualidade Humana, vol 14, n° 2, páginas 229-30, 2003. |
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