ARTIGOS DE SEXUALIDADE - PARTE III - (02/06/03)

A MATERNIDADE , O SIGNIFICADO DE SER MULHER E O DESEJO SEXUAL HIPOATIVO.
Dra. Jaqueline Brendler.Vice-Presidente da R. Sul da SBRASH. F: 51/3228.0322.

Sabemos que as mulheres, ao longo da sua existência, exercem vários papéis: o de filha, o de mãe, o de profissional , o de mulher sexuada e o de avó. Qual o significado de ser mulher atualmente ? É ainda ser mãe ? Percebo, ao atender mulheres adultas com desordem do desejo sexual hipoativo (HSDD), que essa queixa já existia em intensidade leve e torna-se importante fonte de conflito , de sofrimento pessoal e do casal após o nascimento do primeiro filho ou de um dos filhos.

A vinda de um filho gera muitos sentimentos, emoções e conflitos e muda a estrutura do casal . Se for o primeiro filho, o casal passa também a constituir uma família. Na situação em que a mulher está com desejo sexual hipoativo é comum que não exista mais o casal, após o nascimento do primeiro filho , e ,sim, somente família. A maioria das mulheres com HSDD têm dificuldade de administrar o papel de mãe associado aos outros papéis, principalmente o de "mulher sexuada". A maternidade requer tempo, dedicação, energia e é freqüente que as mulheres com desejo sexual hipoativo permaneçam embriagadas nesse papel, com o qual sonharam e para o qual foram treinadas ,ao mesmo tempo em que percebem que "sexo não precisa mais existir". Essa ligação simbiótica com o filho, com o tempo, não impede a percepção do sofrimento causada pela HSDD. Como são mãe quase 24 horas por dia, sobra pouco tempo para ser "uma pessoa" , pois há a perda da identidade pessoal e a incorporação da entidade "mãe". Um dos pré-requisitos para que haja desejo sexual é que exista uma pessoa inteira, realidade distante das mulheres que estão exercendo a maternidade e sofrem de perda do desejo sexual. O sofrimento se faz porque, ao mesmo tempo que atingiram o "topo do mundo", com a maternidade, dão-se conta de que poderiam viver com o parceiro sexual, sem ter atividade sexual. A família de origem e a cultura introjetam nas mulheres a maternidade, o amor e atualmente a profissionalização como sendo "nobre" e o sexo e a sexualidade como algo ruim, feio, sujo ou pecaminoso. Quais os pais que dizem aos filhos, e principalmente às meninas, que o exercício da sexualidade é bom, que aumenta a auto-estima, que fortalece o vínculo do casal e que dá muito prazer ? O terapeuta poderá ajudá-la a criar uma identificação também com a "fêmea", com a mulher sexuada, como a casa de origem e a cultura a ajudaram a identificar-se com a mãe e com a profissional.

Leia: A ausência de identificação feminina com "a mulher sexuada" aparece em relacionamentos de longa duração. RBSH, vol13, n 1, 15-19,2002.

Anais da 6ª Jornada Gaúcha de Sexualidade Humana, de 5 a 7 de junho de 2003, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, resumo , página 11.


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