SEXUALIDADE E CLIMATÉRIO.
Dra. Jaqueline Brendler - Presidente da SBRASH - Consultório - Telefone: (51) 3228.0322
Publicado em : . Fêmina - Revista da federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, 2002; Vol. 30, N° 8 , 577-8.
Autores:
César Pereira Lima*
Gerson Pereira Lopes**
Jaqueline Brendler***
Rodrigo Pereira Lima****
* Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre e Faculdade de Medicina da PUCRS.
**Sexólogo
***Ginecologista e Sexóloga ****Psicólogo
“O sexo contém tudo: corpos, almas
sentidos, provas. Purezas, delicadezas,
resultados, avisos,
cantos, ordens, saúde,
o mistério materno, leite seminal,
todas as esperanças, benefícios,
todas as dádivas, paixões, amores,
encantos, gozos de terra,
todos os deuses, juízes, governos,
pessoas no mundo com seguidores,
tudo isto no sexo está contido
ou como parte dele ou
como sua razão de ser”.
Walt Whitman ( 1819 – 1892 ), in Folhas de Relva..
Estatísticas demostram que grande parte de nosso tempo é gasto em pensamentos, intenções ou ações de conotação sexual. A dicotomia que a espécie humana fez, separando sexo de reprodução, e a possibilidade de recepção contínua da mulher ao coito, não mais presa aos estros e cios gerou, por outro lado, o sexo e a orgasmoclastia – quanto mais melhor. Mas as coisas não são bem assim. Sexo, afora os aspectos reprodutivos e prazerosos, é forma de expressar afetividade. Homens e mulheres sentem-se valorizados pelo desejo despertado. Ficam tristes quando isto não mais ocorre.
Com o passar dos anos, a força muscular, o vigor físico, o turgor da epiderme, se modificam.
Elas lutam, senão para viver, ao menos para retardar seu aparecimento. As mulheres que estão no climatério hoje são muito diferentes das mulheres que viviam nesta fase da vida há 30 anos.
As melhores condições de vida e os avanços médicos estão oferecendo um arsenal de recursos que possibilitam as mulheres uma melhor qualidade de saúde. Isso somado a conquista de recursos financeiros oriundos do exercício profissional dão a muitas mulheres, infelizmente não a todas, a possibilidade de um maior investimento em si mesmas. Contudo a reflexão sobre “a tirania estética” a que estão submetidas nem sempre é feita mesmo quando se sabe que pode haver beleza física em todas as idades. As imagens vendidas em propagandas, filmes e televisões raramente enaltecem a idade madura. Ser jovem, forte e bonito é estar com tudo. O resto, bem, é resto. Sobreviver e viver bem nesses valores, não é fácil principalmente para as mulheres. Em relação a sexualidade algumas ficam com vergonha de manifestar seus desejos quando a idade avança, sendo, não raro, rotuladas como assanhadas, como se tivessem perdido o direito às manifestações de afeto.
Aron Hutz, geriatra e Sexólogo riograndense, certa feita escreveu que “as pessoas de forma em geral, entendem o idoso como não mais interessado e / ou capaz de realização sexual. Os velhos são considerados assexuados... Por vezes, os próprios gerontes absorvem estas idéias e se autopreconceituam.”
O sexo, na idade madura, é pouco falado e, menos ainda, questionado. Recente pesquisa, realizada na cidade brasileira de maior longevidade, mostrou que apenas 8% dos casais idosos, regularmente constituídos, colocavam as relações genitais como manifestação mais importante de sua sexualidade, os demais valorizavam a atenção, o carinho, os cuidados especiais e o toque. É de conhecimento científico que a sexualidade das pessoas idosas é mais difusa e não prima pela genitalidade, contudo 8% talvez nos ressalta a dificuldade que os entrevistados possam ter tido de “assumir a sua sexualidade” numa pesquisa. Outro fator é que a expressão preferencial da sexualidade, os desejos e necessidades são diferentes em homens e em mulheres e quando “o casal” não é ouvido separadamente as diferenças podem não surgir.
Os fatores que afetam a expressão sexual nas mulheres menopausadas são múltiplos e abrangem o perfil hormonal, a estrutura psicossocial e a idade propriamente dita. Nunca é demais reforçar que nos seres humanos os fatores psicológicos e sociais representam mais do que os níveis hormonais, o principal papel na determinação do comportamento sexual. E aí entra em jogo o pessoal e o interpessoal pois muitas mulheres adquiram identidade outra além “da esposa do Sr. Fulano”. Como também o balanço do que foi conquistado e ainda será. A visão que ela tem do climatério será determinante da maneira como enfrentará os próximos anos. Talvez seja momento de refletir sobre o texto “instantes”:
/ Iria a lugares onde nunca fui, tomaria /
mais sorvetes e menos lentilhas, teria mais/
Problemas reais e menos imaginários.
As mídias de olho na maturidade e na “melhor idade” induzem comportamentos, desejos e problemas a fim de estimular o consumo de roupas, produtos de beleza, medicamentos que escapam a qualquer tipo de controle, com exceção do questionamento efetuado por poucos. Melhor é ouvir o poeta e simplificar, viver a vida. Quanto menor a resistência as mudanças inevitáveis menos sofrida será a adaptação pois é lógico que a biologia também conta, e muito. A longevidade é uma circunstância relativamente nova na história da humanidade e ainda desconhecemos muito o que diz respeito às questões relativas à sexualidade. O que sabemos, entretanto, nos possibilita afirmar que em matéria de sexo, quando a vida pregressa foi gratificante, existindo saúde, compreensão e atração não há aposentadoria.
Sexo é vida, e vida é movimento. Portanto o envelhecer e o movimento do em + velho + ser. É possível envelhecer... sendo com sexo. Porém, sexo não deve ser entendido apenas como um encontro de genitais, dos poucos centímetros no meio do corpo. Brilho, doçura, vivacidade, sabor, compreensão, carinho são aspectos, entre outros, que compõem o panorama da sexualidade amadurecida.
A maturidade sexual ocasiona o crescimento e o vislumbramento de um horizonte onde a pessoa se argumenta, se protege, se defende e é capaz de cuidar de si mesma e ter uma direção.
Sem dúvida, a direção e o movimento irão levar à busca do prazer, em que o compromisso está no processo, na relação a dois, na entrega.
Para o homem mais que para a mulher, a imaturidade geralmente ocasiona compromisso com o resultado, a “performance” e a preocupação de evitar fracassos, em todas as empreitadas. Mas a vida é feita de altos e baixos, de idas e vindas.
Com a sexualidade o mesmo acontece. Existem dias melhores e os outros. E isto tem de ser aceito como normal, não podemos evitar a vida. Se não for uma disfunção erétil ocasional a mulher sexualmente saudável não deve deixar a sua auto-estima tornar-se abalada, sentindo-se responsável, pois as disfunções sexuais são problemas de saúde e, na maioria das vezes, são tratadas com sucesso por especialistas.
O sexo, com o passar dos anos, se modifica, não há duvidas e dois fatores o influenciam sobremaneira. O primeiro é a forma como o vivenciamos ao longo da vida e o segundo, depende da afetividade, do diálogo e do companheirismo. Isso constitui o âmago da questão. O resto, é a sua natural decorrência. |