A CIÊNCIA DO ORGASMO
Dra. Jaqueline Brendler. Barry R Komisaruk, Carlos Beyer-Flores & Beverly Whipple: THE SCIENCE OF ORGASM.
A autora do "The G Spot and Other Discoveries about Human Sexuality" Beverly Whipple uniu-se ao neurocientista Barry R Komisaruk e ao endocrinologista Carlos Beyer-Flores para escrever este livro, pois, segundo eles, o orgasmo é uma das mais intrigantes experiências que se tem na vida. Assim, do objetivo dos autores de desvendar o universo do orgasmo através das ciências neurológicas, comportamentais, cognitivas e fisiológicas nasceu a "The Science of Orgasm" - um livro que é referência para os profissionais que lidam com a sexualidade humana e deveria ser lido por todos.
Nos seus 24 capítulos descrevem à luz do conhecimento atual tópicos como: Definições do orgasmo; Diferentes nervos, diferentes sensações orgásmicas; Mudanças corporais no orgasmo; São os orgasmos bons para sua saúde? ; Quando as coisas dão erradas; Doenças que afetam o orgasmo; Como a idade afeta o orgasmo? ; Prazer e satisfação sem orgasmo; Conexões do Sistema Nervoso; A neuroquímica do orgasmo; Efeitos de medicações; Amenizando os efeitos colaterais de medicações; Drogas estimulantes e recreacionais e o Orgasmo; Drogas depressoras e o orgasmo; Terapias Herbáceas; Hormônios e orgasmo; Mecanismo de ação dos hormônios esteróides sexuais; Hormônios não sexuais e o Orgasmo; Orgasmos atípicos; Conexão cérebro-genital; Orgasmo após cirúrgica cerebral ou lesão cerebral; Imagem do cérebro durante a excitação sexual e o orgasmo; Personagens do elenco: Como os componentes cerebrais contribuem para o orgasmo; Consciência e Orgasmo, num texto objetivo, técnico, interrogativo, reflexivo, comparativo, muito didático e agradável de ser lido.
São descritas as inúmeras vias que levam os estímulos eróticos das várias regiões do corpo, as diferentes regiões do sistema nervoso ativadas durante os orgasmos típicos e atípicos em pessoas saudáveis ou doentes, bem como um mapeamento do sistema serotonérgico e dopaminérgico. Os autores citam medicamentos (convencionais ou ervas), drogas lícitas ou ilícitas e o modo como, ao atuarem no SNC (Sistema Nervoso Central) ou no SNP ( Sistema Nervoso Periférico), acabam interferindo de modo menos negativo (como alguns antidepressivos a exemplo da nefazodona, mirtazapina, bupropiona, moclobemida) ou mais deletéria em relação ao orgasmo. Portanto , se você tem alguma dúvida sobre alguns desses itens, a leitura do livro será esclarecedora.
Sobre a sexualidade feminina o texto vai muito além de hipervalorizar a importância do estímulo físico do clitóris na mulher, parte do corpo que é "mais densamente inervada", que ainda é desconhecido para muitos, para o desencadear do orgasmo. Sobre esse tópico , em mulheres saudáveis, menciona que como a inervação do clitóris é via nervo pudendo, da vagina principalmente via nervo pélvico e do colo uterino principalmente via nervo hipogástrico, nervo pélvico e nervo vago então que o estímulo nessas áreas irá desencadear diferentes sensações de orgasmo e que, se nas três, ao mesmo tempo, o efeito erótico será aditivo. Expõe também que no prazer do sexo anal, em mulheres, o principal nervo envolvido é o pélvico, se o clitóris não for estimulado . Em homens , durante a prática de sexo anal descreve que uma das fontes de prazer é o somatório do estímulo do nervo pélvico responsável pela inervação do reto ao estímulo do nervo hipogástrico responsável pela inervação da próstata, que é massageada durante o coito anal.
Os autores citam que mulheres com lesão medular de qualquer nível podem ter orgasmo com a estimulação do colo uterino por um vibrador, o que foi comprovado, em 2004, por imagem de ressonância magnética funcional. Isso se deve à conexão direta do nervo vago, presente no colo uterino, com o cérebro (Núcleo do Trato Solitário na Medula Oblonga), o que permite o orgasmo, sem que o estímulo erótico aferente necessite passar pela medula que foi lesionada, o que é uma informação importantíssima para a clínica sexológica.
No capítulo "Quando as coisas dão erradas", todos os problemas, as doenças e as disfunções sexuais estão descritos em relação a homens e a mulheres, bem como os mitos ainda existentes sobre a sexualidade feminina que são derrubados pelo novo entendimento das disfunções sexuais femininas baseadas, principalmente, mas não unicamente, no modelo circular proposto por Rosemary Basson. Como no capítulo acima citado, nos capítulos "Mudanças corporais no Orgasmo" e "Doenças que afetam o orgasmo", "Hormônios e o Orgasmo", "Mecanismo de ação dos Hormônios esteróides sexuais", "Hormônios não reprodutivos e o Orgasmo" , "Prazer e satisfação sem orgasmo", esse livro que é a Bíblia do orgasmo, transcende esse tópico mencionando interações em outras esferas do comportamento e da resposta sexual humana.
Em todo o livro há diferentes referências em relação à ocitocina, na sua dupla função de atuar, principalmente em mulheres, como um hormônio e nos homens como um neurotransmissor. Nas mulheres, a ocitocina é muito conhecida por atuar na ejeção do leite, durante a amamentação e estar envolvida com as contrações do parto. Nelas os estímulos sexuais das mamas, dos mamilos, da vagina e da cérvice convergem para PVN (Núcleo Paraventricular do Hipotálamo) que produz a ocitocina que fica armazenada na glândula pituitária e que é liberada, no orgasmo, no sistema circulatório, provocando contrações dos músculos da vagina, cérvix e útero, gerando sensorial estimulação que pode provocar contrações dos músculos voluntários do assoalho pélvico, o que contribuiu para o sentimento de prazer na transa. Nos homens, os neurônios contendo ocitocina projetam-se do PVN para a medula espinhal e fazem sinapse com neurônios da região lombar à sacral, níveis neuronais que controlam a ejaculação e a ereção, respectivamente. Então a ocitocina atua no SNC e na medula espinhal. Em Homens e mulheres a ocitocina é liberada em grande quantidade na corrente sanguínea um minuto após o orgasmo, permanecendo até cinco min, isto, sendo uma das responsáveis pelo sono e pelo o relaxamento, após o clímax. Relata também que uma das situações que pode interferir com a secreção de ocitocina é a lesão nos nervos hipogástricos e pélvicos, sejam elas acidentais ou cirúrgicas.
Comparando homens e mulheres durante exposição a filmes eróticos, homens possuem maior ativação do hipotálamo ou hipotálamo e tálamo ou ainda , segundo uma terceira pesquisa, hipotálamo, amígdala e hipocampo, que mulheres, embora existam outras áreas igualmente ativadas nos dois sexos. Ao passo que "pessoas intensamente apaixonadas" , sem distinção de sexo, "quando observam fotografias do ser amado, acionam as mesmas áreas cerebrais ( Mesencéfalo Anterior e o Núcleo Caudado) , que são regiões que também fazem parte do sistema dopaminérgico".
Como vocês percebem, seria impossível selecionar todos os tópicos interessantes desse livro de 359 páginas para um resumo, melhor seria traduzi-lo integralmente para o português, pois, como é um livro dirigido aos estudiosos da sexualidade, trata os temas de modo multifacetado , o que é muito enriquecedor. Esse livro é recomendável grau 10 numa escala de 1 a 10. Boa leitura.
Revista Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, v.17, n.°1, 2006, p. 143-145.
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