ARTIGOS DE SEXUALIDADE - PARTE IV - (07/06/04)

OS ÚLTIMOS 50 ANOS DA HISTÓRIA DA SEXUALIDADE HUMANA E O FUTURO
Dra. Jaqueline Brendler - Presidente da SBRASH - Consultório - Telefone: (51) 3228.0322

Anterior aos últimos 50 anos, temos que mencionar principalmente os estudos de Sigmundo Freud, pai da psicanálise e lembrar Haverloock Ellis. Em 1948, Alfred Kinsey publicou "O comportamento sexual masculino" e, em 1953, "O comportamento sexual feminino", baseados em 12 mil entrevistas individuais, que continham dados como 37% dos americanos tiveram uma experiência homossexual e 62% das mulheres haviam experimentado a masturbação. No ano de 1951, Luis Mirameontes (México) inventou a pílula de nortestosterona.

Em 1960, o FDA aprovou a comercialização da pílula anticoncepcional. Isso provocou uma separação entre a reprodução e a sexualidade e também mudança no vínculo homem-mulher. O sexo pré-marital tornou-se mais freqüente e começou-se a pensar em sexualidade como uma atividade relacional prazerosa. Essa conquista foi um dos pilares da Revolução Sexual dos anos 60 e que se caracterizou pelo movimento e pelo protesto entre adolescentes e adultos jovens, pelo ressurgimento do feminismo, num mundo que assistia à Guerra do Vietnã, e nos quais os jovens eram contra o "sistema" na época do "faça amor e não faça a guerra". Em 1966, Masters & Johnson publicam "A resposta sexual humana", após observação direta de mais de 10 mil coitos, durante 12 anos de estudo. Em 1970, publicaram "Inadequação Sexual Humana", que descreveu uma nova abordagem para tratar problemas sexuais, a figura do "terapeuta sexual" e relatou a resposta sexual como tendo a fase de excitação, do orgasmo e da resolução.

Embora em 1950 fosse utilizada pela primeira vez uma prótese peniana por Scardino, feita com haste de acrílico, foi em 1973 que Morales publicou a utilização de próteses rígidas duplas de polietileno e nesse mesmo ano Scott e Bradley relataram a utilização de próteses infláveis de 4 volumes. Ainda na década de 70, em 1977 surgiram as próteses semi-rígidas de Finney, uma evolução.

A psicanalista, psicóloga e psiquiatra Helen S. Kaplan reconheceu a fase do desejo e a resposta sexual passou a ter Desejo-Excitação-Orgasmo e Resolução (D-E-O-R) e publicou a "Nova terapia do Sexo", em 1975, integrando a teoria behaviorista à psicoanalítica dentro de uma sofisticada metodologia que permitia a associação de linhas de tratamento, o que modificou o rumo da terapia sexual no mundo. Em 1976, Julia Heiman, Leslie LoPiccollo e Joseph LoPiccolo publicam "Tornando-se Orgásmica: um programa de crescimento sexual para a Mulher". Nos anos 70, a mídia torna-se uma força notável na revolução sexual, e iniciou maior entrada da mulher no mercado do trabalho, ao mesmo tempo em que surge a coabitação não-marital. Em 1974, a homossexualidade deixa de ser doença mental e, em 1978, ocorre o primeiro nascimento de um bebê por FIV (fertilização in vitro). No final dos anos 70, ocorrem movimentos de recuo "contra o aborto" e "contra a educação sexual" nos EUA, como também surge a epidemia de herpes .

A descoberta das injeções intracavernosas para o tratamento da disfunção erétil iniciaram em 1977. Nos anos 80 surgem inúmeras publicações usando papaverina, papaverina e fentolamina e, no final dos anos 80, prostaglandina E1.

Nos anos 80, surge a epidemia de AIDS-SIDA e o "grupo de risco". Em 1981, Shere Hite publica "Relatório Hite sobre a sexualidade Masculina" e, em 1983, ocorreu a primeira gravidez originada de embrião congelado. Nos anos 80, a denominação "climatério" tornou-se difundida, surgiu o termo "3ª idade" e os bancos de sêmen se multiplicaram pelo mundo. John Money é outro autor que deve ser lembrado nos anos 80.

Nos Anos 90, um grande número de mulheres já havia conquistado a sua independência financeira, o que as levou a lutar mais pelos seus outros sonhos e a exigir maior "qualidade" no vínculo, mudando o relacionamento conjugal. Outras mulheres embarcaram na ditadura do orgasmo por incorporarem o padrão masculino "neo-liberal" e de desempenho. Em 1992, ocorre a primeira ICSI (microinjeção de espermatozóide no citoplasma do óvulo), um aliado na situação de infertilidade de causa masculina. Nos anos 90, apareceu a TRH (terapia de reposição hormonal), na SIDA surgiu o "comportamento de risco", ao mesmo tempo em que entre os adultos observou-se maior "Monogamia seriada" com uniões sucessivas. Também nos anos 90 ocorreu a popularização da Internet, o que modificou as estratégias de aproximações afetivas e sexuais, abrindo um leque de possibilidades, maiores no sentido positivo do que no negativo. O teste de DNA tornou-se de fácil acesso e a paternidade passou a ser uma certeza. Houve um aumento dos movimentos GLS reivindicando direitos. Em 1996, foi publicado "Menstruação - A sangria inútil" sobre a possibilidade das mulheres não menstruarem, desafiando antigos dogmas culturais.

As mulheres, inseridas no mercado do trabalho, começaram a optar por gestar após os 35 anos, o que levou ao surgimento da "maternidade tardia", uma conquista da mulher.

No final dos anos 90, um maior número de mulheres (adultas e adolescentes) passou a tomar a iniciativa sexual, o que provocou conflitos no universo masculino. Os(as) adolescentes, no Brasil, passaram a "ficar" com vários(as) na mesma festa.

Em 1998, o FDA liberou para comercialização o sildenafil (Viagra) que através da sua eficácia possibilitou um maior interesse na discussão da sexualidade saudável e disfuncional em todos as camadas da sociedade, modernizando o tratamento da disfunção erétil com a utilização da via oral. Em 1999, começou a ser vendida pílula pós-coital (levornorgestrel) no Brasil.

No ano 2000, Rosemary Basson descreveu um modelo alternativo da resposta sexual feminina diferente da seqüência D-E-O-R até então igualmente aceito para homens e mulheres e que ficou conhecido como "sistema circular" e que inclui essas fases de um jeito mais dinâmico; ela, até 2002, publicou mais 6 artigos para complementar sua teoria.

No ano 2000 e pós, o termo Pansexual passou a ser amplamente divulgado, apareceu o termo "melhor idade" com a valorização das pessoas acima dos 65 anos, e o congelamento dos óvulos das mulheres se mostrou eficaz, outro avanço na área da infertilidade. Os jovens inseguros e desejosos de uma performance sexual de excelência passaram a fazer um uso "recreativo" do sildenafil (Viagra).

Em 2002, foi publicado no Archives of Sexual Behaviour 31(1) 2002, 94 páginas com artigos sobre orientação sexual, sendo que o artigo mais proeminente o de Cantor, J.M. et al "How many gay men owe their sexual orientation to fraternal birth oreder?" Ele relatou que 1 homem gay em cada 7 devem a sua orientação ao efeito "ordem de nascimento fraternal", cujas implicações podem sugerir a identificação de um locus genético para a homossexualidade, por efeito que opera num ambiente pré-natal, baseados na teoria da progressiva imunização de algumas mães ao antígeno H-Y, na qual é importante o número de fetos homens gerados pela mesma mãe, que aumentariam o efeito dos anticorpos H-Y na diferenciação sexual do cérebro de cada feto homem, refletindo na sua orientação sexual.

Em 2003, foi lançada a tadalafila (Cialis), outra potente droga via oral no tratamento da disfunção erétil. Nos EUA foi intensificada a campanha pregando "abstinência sexual entre os adolescentes" e popularizou-se o termo "metrossexual". Em março de 2004, a Pfiser relatou a interrupção do estudo do silfdenafil em mulheres.

Em relação ao futuro, há carência de estudos farmacológicos com mulheres disfuncionais e esses deveriam ser duplo cegos e randomizados. Seria muito importante esclarecer melhor o papel da dopamina, da serotonina, da acetilcolina, NANC (VIP, NP Y), do óxido nítrico, do SN Simpático do SN Parassimpático, dos estrogênios e dos androgênios na sexualidade disfuncional feminina. Ainda em mulheres, deverá haver pesquisas sobre as lesões neurológicas e vasculares provocadas pela HAS, diabetes, esclerose múltipla e lesões medulares. Outro importante desafio será pesquisar melhor a genética, o ambiente pré-natal, em relação à orientação sexual não somente em homossexuais e as áreas do SNC relacionadas à sexualidade satisfatória e à disfunção sexual. Qualquer avanço, seja psicoterápico ou farmacológico, que venha a diminuir o tempo de sofrimento da pessoa que tem algum tipo de dificuldade sexual será bem-vindo.

Anais da 7ªJornada Gaúcha de Sexualidade, 13 a 15 de maio de 2004, Porto Alegre, resumo, páginas 9 e 10.


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